[A Bíblia sob escrutínio - Emerson Alves Borges]
Adaptado por Aparecido de Bebedouro A BÍBLIA Um livro que tem contribuído bastante para o desenvolvimento de um raciocínio egocêntrico, intolerante, preconceituoso e extremista é a bíblia. Em especial no mundo cristão este livro tem exercido uma influência enorme nas pessoas, guiando seu modo de pensar e agir de uma maneira impressionante. É engraçado como a maioria das pessoas segue um livro que nem sabem ao certo de onde vem, como foi escrito e traduzido e de que forma chegou até nós. Se perguntarmos a maioria dos religiosos eles simplesmente dirão que tal livro foi inspirado por Deus e pela graça divina chegou até nós. Entretanto, estes têm pouco conhecimento sobre a bíblia, e o pouco que sabem lhes foi passado por outras pessoas que também pouco sabem e assim sucessivamente até chegarmos a algum líder de uma determinada religião que tem um pensamento totalmente influenciado por alguma doutrina ou tradição. No geral tais líderes moldaram seu modo de pensar e não admitem a possibilidade de estarem errados, passando esta mentalidade para os demais, não raro através de uma estrutura muito bem organizada, criando nas pessoas uma sensação de segurança através de uma comunidade unida em determinada doutrina. Pessoas que no geral vivem sem muita perspectiva e esperança, que tem problemas e não conseguem conviver com eles, tem obstáculos e não conseguem superá-los, encontram na religião e em sua particular interpretação da bíblia um porto seguro para seus questionamentos, uma bengala emocional para suas angústias. Infelizmente, tais ensinos não passam de mera ilusão, uma fantasia criada para apaziguar as dúvidas existenciais e as incertezas da vida. Apesar da bíblia conter algumas partes interessantes do ponto de vista histórico e alguns ensinos proveitosos para certos aspectos de nossa vida, no geral trata-se de um livro cheio de contradições e incoerências, escrito por homens, contendo ideias e pensamentos puramente humanos. Para descobrir isto, basta fazermos uma análise profunda, deixando de lado fanatismos religiosos e extremismos fundamentalistas, para entendermos a natureza humana dos escritos bíblicos. Com certeza é muito difícil fazer uma análise imparcial e racional de um livro que vende milhões de cópias a cada ano e que tanto influência as pessoas. Entretanto se faz necessário uma análise objetiva, visto que bilhões de pessoas tem baseado sua vida, muitos até perdendo sua vida em nome desse livro. Segundo a tradição judaica, a bíblia começou a ser escrita por Moisés a 3500 anos atrás. Depois de milagrosamente ter libertado seu povo do jugo egípcio, Moisés acampa junto com uma multidão no sopé do monte Sinai. Ali ele deixa seu povo e sobe o monte onde conversa com Deus e recebe as tábuas da lei, os famosos 10 mandamentos. Depois disso ele passa a liderar seu povo por uma peregrinação pelo deserto que por causa da falta de fé deles durou 40 anos. Durante estes longos anos Moisés teria escrito os primeiros 5 livros da bíblia. Os judeus passaram a chamar estes livros de torá ou livro da lei tornando-se a base da fé e tradição daquela nação. Em adição a estes 5 livros foram incluídos outros livros históricos dos judeus, contando as epopeias de reis, juízes, profetas e sacerdotes. Além disso, cânticos, orações e poemas foram catalogados durante séculos, sem contar muitos profetas que registraram suas predições, bênçãos e maldições. Portanto podemos dizer que a maior parte da bíblia, o chamado Velho Testamento nada mais é do que um livro da cultura judaica, assim como também os gregos, os romanos, os egípcios, os chineses entre outros tem sua cultura Segundo a tradição judaica, a bíblia começou a ser escrita por Moisés a 3500 anos atrás. Depois de milagrosamente ter libertado seu povo do jugo egípcio, Moisés acampa junto com uma multidão no sopé do monte Sinai. Ali ele deixa seu povo e sobe o monte onde conversa com Deus e recebe as tábuas da lei, os famosos 10 mandamentos. Depois disso ele passa a liderar seu povo por uma peregrinação pelo deserto que por causa da falta de fé deles durou 40 anos. Durante estes longos anos Moisés teria escrito os primeiros 5 livros da bíblia. Os judeus passaram a chamar estes livros de torá ou livro da lei tornando-se a base da fé e tradição daquela nação. Em adição a estes 5 livros foram incluídos outros livros históricos dos judeus, contando as epopeias de reis, juízes, profetas e sacerdotes. Além disso, cânticos, orações e poemas foram catalogados durante séculos, sem contar muitos profetas que registraram suas predições, bênçãos e maldições. Portanto podemos dizer que a maior parte da bíblia, o chamado Velho Testamento nada mais é do que um livro da cultura judaica, assim como também os gregos, os romanos, os egípcios, os chineses entre outros tem sua cultura Segundo a tradição judaica, a bíblia começou a ser escrita por Moisés a 3500 anos atrás. Depois de milagrosamente ter libertado seu povo do jugo egípcio, Moisés acampa junto com uma multidão no sopé do monte Sinai. Ali ele deixa seu povo e sobe o monte onde conversa com Deus e recebe as tábuas da lei, os famosos 10 mandamentos. Depois disso ele passa a liderar seu povo por uma peregrinação pelo deserto que por causa da falta de fé deles durou 40 anos. Durante estes longos anos Moisés teria escrito os primeiros 5 livros da bíblia. Os judeus passaram a chamar estes livros de torá ou livro da lei tornando-se a base da fé e tradição daquela nação. Em adição a estes 5 livros foram incluídos outros livros históricos dos judeus, contando as epopeias de reis, juízes, profetas e sacerdotes. Além disso, cânticos, orações e poemas foram catalogados durante séculos, sem contar muitos profetas que registraram suas predições, bênçãos e maldições. Portanto podemos dizer que a maior parte da bíblia, o chamado Velho Testamento nada mais é do que um livro da cultura judaica, assim como também os gregos, os romanos, os egípcios, os chineses entre outros tem sua cultura registrada em livros que na sua grande maioria estão repletos de mitos e lendas, contadas de geração após geração, e que em determinado momento foram colocados por escrito. Apesar dos judeus se auto proclamarem o povo escolhido do Deus mais poderoso de todos os Deuses, todas as outras nações também se consideram um povo especial, protegido por uma determinada deidade que consideram a mais poderosa. Este tipo de pensamento era comum entre os povos antigos e os judeus não eram diferentes, eles se consideravam especiais, escolhidos por Deus e baseavam este pensamento nas suas vitórias sobre outras nações. Quando perdiam as batalhas ou eram subjugados por outros povos eles providencialmente culpavam a si mesmos, dizendo que sua derrota se devia a sua infidelidade ou falta de fé em seu Deus. Esta forma de encarar as coisas era bastante prática, pois explicava qualquer tipo de desfecho que ocorria em sua história, e sua deidade nunca era rebaixada ou humilhada. Quando parte da nação era destruída, seus profetas habilmente colocavam a culpa em seu próprio povo. Faziam isto às vezes antes das batalhas, observando a inferioridade numérica ou certa desorganização em seu exército, talvez notando um semblante desanimado em seus combatentes ou algum outro indício que os fazia prever o desfecho de determinada situação. Este tipo de mentalidade me lembra a de alguns religiosos atuais que adaptam qualquer situação da vida a sua crença religiosa. Se a pessoa é fiel à igreja e tem prosperado ou tudo corre bem, eles atribuem isso às bênçãos de Deus. Se acontecer algum problema, Deus está provando a fé da pessoa. Por outro lado, se a pessoa sai da igreja ou não é fiel, e prospera, é o diabo que a está ajudando. Se acontecer algum problema é porque a pessoa abandonou a igreja e Deus não a está abençoando mais. Observe que se passam milênios, mais a mentalidade das pessoas continua a mesma. Mas voltando a questão das histórias judaicas, estas eram contadas e recontadas, aumentadas, exageradas e no final quando eram registradas já estavam totalmente deturpadas e nada mais eram do que mitos e lendas. Tirando a crendice religiosa de lado, quem pode em sã consciência dizer que tem certeza da data exata em que determinado livro bíblico foi escrito? Ou quem foi seu escritor? São livros escritos há milênios, em épocas remotas, tempos tão antigos que a própria escrita em si estava em seus primórdios. Antes da invenção do alfabeto, a escrita consistia em simples pictogramas ou sinais silábicos, onde cada símbolo representava uma sílaba. Como a língua usa centenas de sílabas, isto significava a memorização de centenas de sinais. Os primeiros pictogramas eram esboços simples de objetos familiares. Com o tempo estes evoluíram de acordo com os instrumentos e superfícies de escritas que no fim ficaram bem diferentes dos desenhos originais. Este processo ocorreu com todas as línguas antigas. Estes símbolos evoluíram para os primeiros esboços de letras. Realmente o desenvolvimento da escrita de simples desenhos ao alfabeto complexo que existe nas línguas modernas demonstra que seria uma ingenuidade muito grande acreditar que a bíblia que temos hoje contêm exatamente as mesmas palavras e ideias de quando foram originalmente escritas. Mesmo que tivéssemos os originais em mãos, mesmo assim seria impossível traduzi-los de maneira exata, pois são línguas mortas que se perderam com o tempo. Mesmo os maiores eruditos em sistemas cuneiformes e hieróglifos, hebraico clássico e sinais pictóricos, jamais poderiam afirmar que conseguem traduzir com absoluta precisão estas formas antigas de escrita. Mesmo que tivéssemos os originais, pois a realidade é que não temos, não chegamos nem perto de ter algum escrito original do antigo testamento. O melhor que temos são cópias de cópias que foram sendo feitas através de séculos, e não temos nenhuma noção do que aconteceu durante este processo. Como vimos à própria língua foi mudando com o tempo, foi evoluindo. O hebraico clássico, por exemplo, era escrito sem os caracteres que correspondem as nossas vogais, as pessoas na época completavam os sons vocálicos com a mente. Posso ilustrar com algumas palavras no português que hoje todos conhecem mesmo sendo abreviadas. Se você observar as letras Ltda, saberá que significa limitada, palavra muito usada no comércio. Se observar Dr, saberá que significa doutor. Mas agora imagine uma pessoa que achar uma inscrição destas uns 3000 anos no futuro. Será que ele conseguiria entender quais as letras que se usa hoje para completar a abreviação DR ou Ltda? É impossível saber ao certo quais os sons vocálicos que os judeus usavam lá no passado, assim o hebraico clássico é uma língua impronunciável, portanto indecifrável. Outro desafio é saber ao certo a época da escrita ou o provável escritor de determinado livro bíblico. Fica difícil saber se determinado dito profético foi realmente falado antes ou depois do fato consumado, ou se determinada história foi verdadeira ou se foi depois de muitos séculos mistificada, acrescentada de exageros para se torna um épico. Durante todo este processo de cópias e recopias seguido por um longo período de traduções (Hebraico clássico para o Aramaico, depois para o Grego, depois para o Latim e finalmente para as línguas modernas) aconteceram muitos erros tanto intencionais (o escriba muda ou acrescenta algo para apoiar seu conceito teológico) como não intencionais (o escriba pula uma linha ou deixa a pena escorregar ou borrar). Além disso, temos hoje numa mesma língua várias versões da bíblia que diferem e discordam entre si. Só na língua portuguesa a inúmeras versões da bíblia como a Bíblia de Jerusalém, Matos Soares, João Ferreira de Almeida (que já foi revista e corrigida várias vezes), Figueiredo, Ave Maria, Tradução do Novo Mundo, Bíblia na Linguagem de Hoje entre outras. Este mesmo panorama encontra-se em muitos outros idiomas, como o inglês (Rheims-Douay, King James Version, Young, English Revised, Emphasised Bible, American Standart, An American translation, New English Bible, Today English Version, New Jerusalém Bible), espanhol (Valera, Moderna, Nácar-Colunga, Evaristo Martin Nieto, Serafin de Ausejo, Cantera-Iglesias, Nueva Bíblia Espanhola), alemão (Luther, Zürcher, Elberfelder, Menge, Bibel in heutigem Deustch, Einheitsübersetzung), francês (Darby, Crampon, Jerusalém, TOB Ecumenical Bible, Osty, Segond Revised, Français Courant) e italiano (Diodati, Riveduta, Nardoni, Garofalo, Concordata, Parola Del Signore). O que vou citar das versões em língua portuguesa servirá de base para exemplificar as diferenças e discordâncias que existem em todas as línguas citadas.
A versão Matos Soares e Ave Maria contêm 73 livros que são considerados inspirados por Deus. Já a Tradução do Novo Mundo, João Ferreira de Almeida, Bíblia de Jerusalém, Figueiredo e a Bíblia na Linguagem de Hoje, contêm 66 livros, os demais livros são considerados por tais, livros apócrifos, ou como eles dizem, não inspirados por Deus. Cada lado apoia seu ponto de vista citando manuscritos antigos que conforme você deve estar imaginando, alguns contêm tais livros e outros não.
A João Ferreira de Almeida, a Bíblia de Jerusalém e a Tradução do Novo Mundo usam de alguma forma o tetragrama hebraico que os judeus usavam como nome de Deus (YHVH), e visto que o hebraico clássico não usava caracteres que correspondem as vogais que usamos hoje no português, eles tentaram incluir algumas vogais por sua própria conta, assim você encontra em uma Jehovah, outra Javé, ainda outra Yahweh. Alguns vertem alguma forma deste nome em alguns versículos,outros preferem colocar em outros versículos diferentes e existem versões que vertem em mais de 7000 lugares, praticamente por toda a bíblia, diferente de outras que não vertem em lugar nenhum como a Figueiredo, Ave Maria, Bíblia na Linguagem de Hoje e a Matos Soares, que preferem não entrar nesta confusão e simplesmente colocam o título SENHOR com letras maiúsculas, um tipo de polêmica que não chega a lugar nenhum, porque na realidade ninguém sabe realmente como os judeus chamavam seu Deus, e para mim, pessoalmente, este tipo de assunto não tem a mínima importância, porque afinal, pelo que sei, as pessoas religiosas consideram seu próprio Deus grande demais para ser englobado ou resumido em um simples nome, seja este qual for, mas polêmicas religiosas a parte, voltemos as diferenças e discordâncias das versões da bíblia.
Algumas traduções colocam certos versículos, enquanto outras consideram tais trechos espúrios, acréscimos de algum copista para apoiar determinada doutrina, ou introduzir algum ponto de vista pessoal. Assim para que não haja diferença de versículo de uma para outra (aquela numeração para facilitar a localização dos trechos) eles colocam pequenos traços no lugar de trechos não desejados, tentando manter uma certa uniformidade que na realidade não existe, pois apesar de seus esforços, a certos trechos em que não houve um acordo e você corre o risco de ler numa bíblia o Salmo 37 e na outra ser o 38, ou ler um trecho numa bíblia considerado inspirado por Deus e na outra bíblia você se deparar neste mesmo trecho com um constrangedor traço, ou mesmo ler um livro inteiro que algumas bíblias consideram a mais pura palavra de Deus e em outras este mesmo livro nem existir.
Existem também relatos que encontramos em algumas versões enquanto que em outras simplesmente desapareceram. Veja por exemplo o clássico caso de 1ª João 5:7, 8. Em algumas traduções da bíblia, como a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, você lê da seguinte forma: “Porque são três os que dão testemunho: o espírito, e a água, e o sangue, e os três estão de acordo”. No geral, as traduções que vertem dessa maneira são feitas por pessoas que não acreditam na doutrina da trindade.
Mas em outras versões feitas por pessoas que acreditam na trindade, como a João Ferreira de Almeida Corrigida e Revisada Fiel, você lê assim: “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um” E três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num”. Não é muito difícil entender porque os trinitaristas vertem da segunda maneira, enquanto os antitrinitaristas preferem verter da primeira forma. A expressão “o Pai, a Palavra e o Espírito Santo são um” apoia a doutrina da trindade, por isso os antitrinitaristas abominam este trecho dizendo que se trata de um acréscimo ao texto original. Ambos os lados desta questão citam manuscritos antigos para apoiar sua tradução. Mas o problema é que existem manuscritos antigos e respeitáveis que vertem tanto de uma forma como de outra. Existem vários casos assim e cada tradutor escolhe aqueles manuscritos que melhor se encaixam com seus conceitos.
Outro fato interessante diz respeito à escolha de palavras que cada tradutor resolve colocar em sua versão da bíblia. Visto que grande parte da bíblia foi escrita originalmente em hebraico clássico, uma língua morta, a única solução é traduzir a bíblia de outras traduções em línguas um pouco mais modernas, como o grego e o latim e mesmo assim a uma dificuldade extrema em traduzir textos de tais línguas, pois existem expressões que simplesmente são impossíveis de traduzir de maneira exata, além de palavras que não tem um correspondente nas línguas atuais.
Assim cada tradutor resolve colocar determinada palavra que para ele exprime melhor o que ele acha que o escritor bíblico quis expressar. Por causa disso, você lê determinado trecho bíblico em uma versão e chega a uma conclusão, já em outra você lê o mesmo trecho e chega a outra conclusão completamente diferente, porque a maneira como o tradutor resolveu traduzir, a escolha de palavras e expressões, influencia muito a maneira de entendermos o texto. Na verdade as línguas diferem não só na gramática e na etimologia, mas também no modo em que as ideias são construídas numa sentença. Pessoas que falam línguas diferentes pensam de formas diferentes. Portanto, a forma de traduzir um texto bíblico de línguas antigas para idiomas modernos depende muito do ponto de vista do tradutor. É por isso que hoje vemos tantas religiões completamente diferentes nos seus ensinos, que afirmam basear sua doutrina na bíblia. Tal paradoxo acontece não só pelas diferenças de tradução, como também por causa das diferenças de interpretação.
O objetivo de mostrar alguns destes fatos é demonstrar que para uma pessoa razoável, torna-se extremamente difícil acreditar que as histórias narradas na bíblia são plenamente confiáveis e a mais precisa descrição dos fatos históricos. Levando em conta que os povos antigos tinham o costume de criar lendas e mitos envolvendo a história de seus antepassados, com o objetivo de aumentar a autoestima de seu povo, colocando-os como especiais e sua deidade como a mais forte, e analisando que a maioria destas histórias eram passadas de pai para filho, de geração após geração, e que quando chegaram a ser registradas, já estavam muito distantes do fato propriamente dito, e levando em consideração toda a trajetória que descrevi desde as línguas passadas até hoje, é realmente impossível acreditar que tais histórias ocorreram exatamente como são narradas nas bíblias que temos atualmente. É claro que não estamos dizendo que estas narrativas foram totalmente inventadas, é óbvio que elas surgiram de acontecimentos reais, o ponto em questão é que quando foram registradas já se tratavam de lendas, estavam cheias de descrições fantasiosas como é comum em uma transmissão oral, envolvendo várias gerações, e mesmo já registradas, não temos como saber o que aconteceu depois de milênios de cópias e traduções. Tais cópias eram feitas à mão, pois como sabemos não existiam máquinas fotocopiadoras, computadores ou internet.
Portanto decifrar o passado é como montar um quebra cabeças onde faltam inúmeras peças, envolve um trabalho exaustivo de comparações entre todos os registros antigos dos diversos povos, análise dos achados arqueológicos mais relevantes, tentar saber quem esteve envolvido, quais suas origens, suas intenções, seus motivos, as reações da época, um longo trabalho de dedução e filtragem, tentando deixar de lado os mitos e lendas, as epopeias e as fantasias, tentando nos apegar ao que realmente aconteceu, deixando para trás fanatismos religiosos, extremismos, radicalismos, fundamentalismos e preconceitos que ofuscam nosso melhor entendimento da história.
Certamente não temos a pretensão de sermos os donos da verdade, dizer que temos à verdade absoluta, que sabemos exatamente como tudo aconteceu em todos os detalhes, não, longe disso, procuramos melhorar nosso entendimento, chegar um pouco mais perto da verdade, pois sabermos exatamente todos os detalhes do que realmente aconteceu nestas narrativas do passado longínquo seria possível somente se tivéssemos condições de estar lá, vivendo na época, junto com as pessoas, observando os acontecimentos pessoalmente. Mas como sabemos, isto é impossível. Assim, a partir de agora vamos analisar algumas narrativas encontradas na bíblia de um ponto de vista puramente histórico, tentando chegar um pouco mais perto do que realmente aconteceu (salvo alguma indicação, todas as citações bíblicas encontradas neste livro são da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, revisão de 1986).